No começo da minha pesquisa sobre o corpo e o modelado em argila, estudei imagens do meu próprio corpo, e experimentei algumas possibilidades de construção da figura sentada, deitada, em pé - sendo o próprio corpo a estrutura da peça. Exercitei a observação e a memória tátil, ao passo que estudava as proporções, técnicas de modelagem e, depois, o processo de queima, colagem com cimento e pátina. Mas eram poses estáticas.
Então, a partir das bailarinas de Degas, comecei a pesquisar o corpo feminino em movimentos de dança.
Então, a partir das bailarinas de Degas, comecei a pesquisar o corpo feminino em movimentos de dança.
A pequena bailarina de catorze anos, de Edgar Degas. Escultura forjada em bronze a partir da imagem em cera exibida na Mostra Impressionista de 1881. (fonte: Wikipédia) |
foto: Carles Francesc |
foto: Andrea & Yoly |
O “instante corporal” que mais me interessou foi o chamado “arabesco” no ballet. É um momento aonde o corpo curva-se num movimento máximo, com uma perna alongada ao alto e a outra sustentando o peso do corpo na ponta do pé, único contato com o chão. Observando imagens de bailarinas realizando esse passo, percebi que elas reuniam as características que eu queria alcançar com o modelado do corpo feminino: movimento, leveza, equilíbrio, “instante corporal capturado”, efemeridade.
"arabesco" |
Minha pesquisa em papel machê começou quando percebi que a argila não era o material mais adequado para as figuras em movimento que eu queria, a não ser fazendo molde para depois fundir em outro material, ou usando fibra de vidro e resina. Então, observando imagens das bailarinas de cera de Degas, comecei a pensar em materiais alternativos (barato e de fácil acesso) que me levassem a resultados semelhentes. Eu precisava de uma estrutura firme para sustentar a pose, um material modelável, leve para não comprometer o equilíbrio e ser mais fácil de transportar, e que tivesse um resultado estético expressivo. O papel preenche todos os quesitos, além de ser reaproveitado - uso papéis descartados de escritório. A estrutura também pode ser reciclável: sucata.
Então, a partir de estudos de imagens (fotografias de ballet), reduzi o movimento do corpo em linhas estruturais, que vieram a se tornar o esqueleto da escultura trabalhado em arame. Em uma base de madeira, fixei a estrutura de arame por apenas um ponto, onde seria um pé da figura. Apesar da aparente “dureza” do arame, já na construção da estrutura é possível ver o movimento da figura. Ele é firme porém maleável. Fiz os volumes amassando o papel e amarrando com barbante, para que ficasse bem apertado, sem espaço de ar. Depois modelei a figura com a mistura que não é bem papel machê, apenas papel e cola branca. Adicionei também tinta guache para colorir. Colocar cor na própria massa foi outra característica do papel que pude explorar. A textura pode ser definida triturando mais ou menos o papel.
Na tentativa de dar ênfase ao movimento do corpo e interpretando mais a figura da bailarina, alonguei os membros e o tronco – sem preocupação com proporções de anatomia.
Me senti confortável modelando no papel pouco triturado, que não permite muitos detalhes – a massa grosseira sugere uma superfície texturizada diferente da pele lisa (ou não) da argila e sua consistência homogênea. O resultado é um aglomerado sem muito acabamento, direcionando a atenção para o movimento da figura inteira, não em detalhes anatômicos.
Além da própria pose do arabesco e de outras que eu estava estudando já serem um desafio de equilíbrio, os membros alongados forçariam ainda mais a estrutura, chegando ao limite do equilíbrio de peso. Molhado, o papel fica bem mais pesado. Então, a estrutura precisa ser firme até secar, depois a cola endurece e a massa fica bem resistente e mais leve.
Aconteceu que na primeira bailarina, a base não fixou bem e a escultura pendeu para o lado mais pesado. Porém, a característica mais expressiva no trabalho, que seria o corpo longelíneo com grande movimento, foi o que provocou o desequilíbrio. Nas esculturas seguintes reforcei a base e planejei melhor a estrutura.
Então pensei em pendurar a peça: dessa forma dispensaria a base e a figura ficaria inteiramente suspensa no ar, aumentando a sensação de leveza e “instante capturado”, e me deixando mais livre para alterar as dimensões do corpo da bailarina – sem me preocupar com a base.
Aumentei então a escala para experimentar o contraste da leveza do movimento, com o tamanho da figura. A cor negra dá sensação de peso e obscuridade que não são comuns às bailarinas, assim como as extremidades do corpo volumosas - mãos e pés desproporcionais - reafirmam o contraste peso e tamanho do corpo versus leveza e movimento.
O fato de o papel ser um material leve, torna possível grandes volumes com pouco peso. Resolvi aumentar os volumes do corpo da bailarina e criar um corpo obeso, mas que ao mesmo tempo representasse um movimento de extrema agilidade e leveza.
Depois da avaliação desses trabalhos, entendi que o tema “bailarina” é muito genérico, e o modelado em papel pode não ter a mesma resposta expressiva que a argila modelada. Mas acho que pode ser possível mesclar esses materiais, e outros tantos. A questão da bailarina tinha seu motivo no movimento do corpo, que é o meu interesse. Vou continuar investigando esses momentos corporais, mas sem o estereótipo da bailarina. O papel apresenta ainda muitas possibilidades que preciso explorar.
Abaixo o vídeo da minha avaliação no semestre passado (2011/I):
Admiro muito o teu trabalho!Sucesso sempre!
ResponderExcluirCami!!!
ResponderExcluirVocê stá cada vez melhor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Parabéns garotaaaaaaaaa!!
Sucessooooooooooo!!!!!!!!!!!!
bjosssssss
Jozéli
obrigada, fico muito feliz!
ResponderExcluirAmei teu trabalho Camila!
ResponderExcluirTuas bailarinas já voam pelos céus sem as nuvens! Tem asas próprias! Lindo! Bjus
Muito Liindo!
ResponderExcluirParabéns, seu trabalho é simplesmente maravilhoso!
Estou encantada!
Sucesso!!!!
Muito Liindo!
ResponderExcluirParabéns, seu trabalho é simplesmente maravilhoso!
Estou encantada!
Sucesso!!!!