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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Meu modelado em papel: Bailarinas


No começo da minha pesquisa sobre o corpo e o modelado em argila, estudei imagens do meu próprio corpo, e experimentei algumas possibilidades de construção da figura sentada, deitada, em pé - sendo o próprio corpo a estrutura da peça. Exercitei a observação e a memória tátil, ao passo que estudava as proporções, técnicas de modelagem e, depois, o processo de queima, colagem com cimento e pátina. Mas eram poses estáticas.
Então, a partir das bailarinas de Degas, comecei a pesquisar o corpo feminino em  movimentos de dança.

A pequena bailarina de catorze anos, de Edgar Degas.
Escultura forjada em bronze a partir da imagem
 em cera exibida na Mostra Impressionista de 1881. (fonte: Wikipédia)
foto: Carles Francesc
foto: Andrea & Yoly

O “instante corporal” que mais me interessou foi o chamado “arabesco” no ballet. É um momento aonde o corpo curva-se num movimento máximo, com uma perna alongada ao alto e a outra sustentando o peso do corpo na ponta do pé, único contato com o chão. Observando imagens de bailarinas realizando esse passo, percebi que elas reuniam as características que eu queria alcançar com o modelado do corpo feminino: movimento, leveza, equilíbrio, “instante corporal capturado”, efemeridade. 

"arabesco"

Minha pesquisa em papel machê começou quando percebi que a argila não era o material mais adequado para as figuras em movimento que eu queria, a não ser fazendo molde para depois fundir em outro material, ou usando fibra de vidro e resina. Então, observando imagens das bailarinas de cera de Degas, comecei a pensar em materiais alternativos (barato e de fácil acesso) que me levassem a resultados semelhentes. Eu precisava de uma estrutura firme para sustentar a pose, um material modelável, leve para não comprometer o equilíbrio e ser mais fácil de transportar, e que tivesse um resultado estético expressivo. O papel preenche todos os quesitos, além de ser reaproveitado - uso papéis descartados de escritório. A estrutura também pode ser reciclável: sucata. 

Então, a partir de estudos de imagens (fotografias de ballet), reduzi o movimento do corpo em linhas estruturais, que vieram a se tornar o esqueleto da escultura trabalhado em arame. Em uma base de madeira, fixei a estrutura de arame por apenas um ponto, onde seria um pé da figura. Apesar da aparente “dureza” do arame, já na construção da estrutura é possível ver o movimento da figura. Ele é firme porém maleável. Fiz os volumes amassando o papel e amarrando com barbante, para que ficasse bem apertado, sem espaço de ar. Depois modelei a figura com a mistura que não é bem papel machê, apenas papel e cola branca. Adicionei também tinta guache para colorir. Colocar cor na própria massa foi outra característica do papel que pude explorar. A textura pode ser definida triturando mais ou menos o papel. 

 



 



Na tentativa de dar ênfase ao movimento do corpo e interpretando mais a figura da bailarina, alonguei os membros e o tronco – sem preocupação com proporções de anatomia. 



Me senti confortável modelando no papel pouco triturado, que não permite muitos detalhes – a massa grosseira sugere uma superfície texturizada diferente da pele lisa (ou não) da argila e sua consistência homogênea. O resultado é um aglomerado sem muito acabamento, direcionando a atenção para o movimento da figura inteira, não em detalhes anatômicos. 

Além da própria pose do arabesco e de outras que eu estava estudando já serem um desafio de equilíbrio, os membros alongados forçariam ainda mais a estrutura, chegando ao limite do equilíbrio de peso. Molhado, o papel fica bem mais pesado. Então, a estrutura precisa ser firme até secar, depois a cola endurece e a massa fica bem resistente e mais leve. 

Aconteceu que na primeira bailarina, a base não fixou bem e a escultura pendeu para o lado mais pesado. Porém, a característica mais expressiva no trabalho, que seria o corpo longelíneo com grande movimento, foi o que provocou o desequilíbrio. Nas esculturas seguintes reforcei a base e planejei melhor a estrutura. 


Então pensei em pendurar a peça: dessa forma dispensaria a base e a figura ficaria inteiramente suspensa no ar, aumentando a sensação de leveza e “instante capturado”, e me deixando mais livre para alterar as dimensões do corpo da bailarina – sem me preocupar com a base. 

Aumentei então a escala para experimentar o contraste da leveza do movimento, com o tamanho da figura. A cor negra dá sensação de peso e obscuridade que não são comuns às bailarinas, assim como as extremidades do corpo volumosas - mãos e pés desproporcionais - reafirmam o contraste  peso e tamanho do corpo versus leveza e movimento.



 


 

 



O fato de o papel ser um material leve, torna possível grandes volumes com pouco peso. Resolvi aumentar os volumes do corpo da bailarina e criar um corpo obeso, mas que ao mesmo tempo representasse um movimento de extrema agilidade e leveza. 


peça inacabada

Depois da avaliação desses trabalhos, entendi que o tema “bailarina” é muito genérico, e o modelado em papel pode não ter a mesma resposta expressiva que a argila modelada. Mas acho que pode ser possível mesclar esses materiais, e outros tantos. A questão da bailarina tinha seu motivo no movimento do corpo, que é o meu interesse. Vou continuar investigando esses momentos corporais, mas sem o estereótipo da bailarina. O papel apresenta ainda muitas possibilidades que preciso explorar.

Abaixo o vídeo da minha avaliação no semestre passado (2011/I):


6 comentários:

  1. Admiro muito o teu trabalho!Sucesso sempre!

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  2. Cami!!!

    Você stá cada vez melhor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Parabéns garotaaaaaaaaa!!

    Sucessooooooooooo!!!!!!!!!!!!

    bjosssssss
    Jozéli

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  3. Amei teu trabalho Camila!
    Tuas bailarinas já voam pelos céus sem as nuvens! Tem asas próprias! Lindo! Bjus

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  4. Muito Liindo!
    Parabéns, seu trabalho é simplesmente maravilhoso!

    Estou encantada!
    Sucesso!!!!

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  5. Muito Liindo!
    Parabéns, seu trabalho é simplesmente maravilhoso!

    Estou encantada!
    Sucesso!!!!

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