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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Meus registros da 8ª Bienal do Mercosul

Estive em Porto Alegre no último fim de semana e pude visitar parte da 8ª Bienal do Mercosul - Ensaios de Geopoética, que começou dia 10 de setembro e vai até 15 de novembro. 

Comecei pelo MARGS - Museu de Arte do Rio Grande do Sul, porque também está acontecendo lá - até dia 9 de outubro - a exposição Os Diversos Tempos da Forma, do escultor Francisco Stockinger, que não faz parte da Bienal. Infelizmente não foi possível fotografar, e os registros dessa experiência ficaram apenas na minha memória. Fiquei impressionada! Era um conjunto generoso de obras, começando pelas gravuras - inclusive alguns tacos (matrizes das xilogravuras) expostos - e depois as esculturas: essas ainda mais impressionantes. Entalhes em pedra (mármore e basalto), madeira, sucatas de ferro, gesso modelado e bronze fundido. Guerreiros, animais, sobreviventes, o povo nordestino, e abstração.

Ainda no Margs, pertencente a 8ª Bienal do Mercosul tem a mostra Além Fronteiras, que traz artistas com visão crítica à paisagem do Rio Grande do Sul. Também não pude fotografar, mas tive impressões fortes de obras longe de passarem em branco. Os tapetes "cartográficos" de Gal Weinsteins ocupam uma sala enorme, e a obra pode ser vista do andar de cima como um mapa de desenho linear e colorido com variações de verde, marrom e azul. Exorcismo, obra do colombiano Jose Alejandro Restrepo tem forte apelo religioso, com uma escultura sacra e um vídeo de homens aparentemente possuídos por entidades demoníacas. O volume alto da cena de exorcismo e o espaço extremamente escuro tornam o ambiente desconfortável e assustador.

No Santander Cultural estão expostas as Pinturas Aeropostais de Eugenio Dittborn. São painéis enormes, em diferentes suportes, que ainda têm a marca da dobra no tamanho dos malotes postais, onde a obra foi enviada. Entre as muitas técnicas estão desenho, impressão, tingimento, alinhavo, costura. José Roca, o curador, define obra de Dittborn como baseada na transterritorialidade, no nomadismo e nas estratégias para subverter as fronteiras e penetrar os centros sem se deixar neutralizar por eles. 

Foi só no Cais do Porto que pude começar a fotografar. Nos armazéns A4, A5 e A6 está a exposição Geopoéticas, que gira em torno da questão da nacionalidade, explorando diferentes aspectos das ideias de Estado e Nação, suas retóricas visuais (mapas, bandeiras, escudos, hinos, passaportes, exércitos) e suas estratégias de autoafirmação e consolidação de identidade. São muitas as obras, mas tirei foto apenas de algumas dentre as que mais me cativaram.

8ª Bienal do Mercosul
           

Cais do Porto


A primeira obra que me fez puxar a câmera foi O clímax do Novo Mundo # 2 (2001-2011) de Barthélémy Toguo. É uma instalação com enormes carimbos de madeira feitos a partir de troncos talhados, empilhados sobre uma mesa. Nos painéis, há impressões xilográficas de cada um deles. A obra referencia o humilhante processo de autorização de visto e imigração a que estão sujeitos os cidadãos de muitos países do chamado Terceiro Mundo. Os carimbos têm a forma e a materialidade das talhas típicas africanas que os turistas costumam comprar como souvenirs. As imagens estão inspiradas nas marcas que Toguo tem em seu passaporte e incluem carimbos de imigração de cidades ou países onde foi aceito ou rejeitado.

Barthélémy Toguo, O clímax do Novo Mundo # 2 (2001-2011).
Instalação com carimbos de madeira, mesas e xilogravuras






Em Uma linha contém infinitos pontos (2011), Marcius Galan usa "infinitos" alfinetes de mapa para traçar uma linha vermelha que, como um corte violento, atravessa o mapa em branco e rompe seus limites físicos.

Marcius Galan , Uma linha contém infinitos pontos. 2011
Instalação com alfinetes para mapa sobre painéis






Em Fibra ótima (2011), o cubano Luis Gárgica, usa a liguagem do videoarte, da performance e da arte relacional. Os dispositivos eletrônicos "fictícios" q compõem a obra são uma forma de romper o isolamento geográfico e comercial de Cuba: esses aparelhos velhos sem funcionamento viajam para compor a obra, e durante o tempo de exposição, amigos e parentes fazem a substituição de um dispositivo por outro com informações que, invisivelmente, será traficada para Cuba. O transporte de obras de arte passa a ser um modo de proporcionar aos familiares de cubanos que moram no exterior o envio de produtos para seus parentes que vivem isolados na ilha. Sua obra lida direta e ironicamente com as enormes dificuldades dos trâmites alfandegários.

Luis Gárgica, Fibra ótima. 2011
Instalação






A obra de Jean-François Boclé, Consumo racial! (2005-2011) é uma busca de produtos comerciais de diversos países, que envolvem as temáticas de raça e de identidade nacional. 

Jean-François Boclé, Consumo racial!. 2005-2011
Produtos comerciais de diversos países, prateleira de madeira.






Outra obra que me chamou a atenção pelo seu impacto visual foi a instalação de blocos de concreto sobre a bandeira o Brasil, de Marcelo Cidade, que faz surgir uma idéia paradoxal de construção sobre um país soterrado. 

Marcelo Cidade, Luto e luta. 2008
Instalação com blocos de concreto sobre bandeira do Brasil.



Em suas telas, Miguel Luciano usa a justaposição de imagens de produtos comerciais com ícones religiosos e uma multidão de referências culturais e políticas para falar da difícil relação cultural entre Espanha e Estados Unidos, para se referir a questões como identidade nacional, intervencionismo militar, tensões comerciais e anedotas locais. 

Miguel Luciano, Coelhinhos barcelonetas. 2007
Acrílico sobre tela

Miguel Luciano, Tio Kola. 2003
Óleo sobre tela



Regina Silveira, que é amplamente conhecida por seu trabalho sobre as convenções da representação e por sua pesquisa de décadas sobre a luz e a sombra, agora traz uma obra de cunho mais político e sociológico. Para ser continuado... (quebra-cabeça latino-americano) 1998, é um quebra-cabeça gigante, cujas peças, apesar de se encaixarem perfeitamente, nunca conseguem armar uma imagem global correta ou completa. Cada uma delas tem imagens estereotípicas de América Latina: Che Guevara, Carlos Gardel, a Virgem de Guadalupe, os monumentos eqüestres dos precursores da Independência, os mariachis, as igrejas coloniais, as guerrilhas revolucionárias, as culturas indígenas pré-colombinas, os animais andinos, as frutas tropicais, Carmem Miranda, os militarismos... Nas palavras de Silveira, “a montagem do quebra-cabeça compõe inevitavelmente narrativas abertas e caóticas que misturam diferentes geografias, épocas e culturas. Uma obra (quase diria ‘turística’) que revela o olhar precário do ‘outro’ estrangeiro, que conhece apenas, quando muito, estereótipos da nossa cultura e ‘paisagens’”. 

Regina Silveira, Para ser continuado... (quebra-cabeça latino-americano). 1998
Vinil adesivo sobre espuma





Na obra de Laís Myrrha, Onde nunca anoitece (2009), cada relógio está situado num ponto onde se encontram um meridiano e um paralelo. O resultado é um arranjo semelhante à projeção plana do mapa-múndi. Os meridianos do mapa possuem relógios que marcam precisamente o horário local e cada relógio desperta no alvorecer do local que representa. Sucessivamente, cada um dos relógios anuncia o dia numa espécie de cartografia do tempo. 

Laís Myrrha, Onde nunca anoitece. 2009
Instalação com relógios digitais.






No armazém A7 do Cais está a exposição Cadernos de Viagem. Caderno, diário ou agenda de viagem são os lugares em que aparecem anotações, desenhos e experiências, recolhidas como reflexão e memória.  Nove artistas cujas práticas habituais envolvem a viagem, a paisagem e/ou o trabalho com comunidades, realizaram uma rota específica durante três semanas, em média, deixando que a experiência da viagem, a paisagem e as interações sociais e/ou culturais ditassem o caminho pelo qual fosse desenvolvido seu projeto. 

A obra de Mateo López, Notas de Campo (2011) evidencia o desenho como registro do seu próprio acontecer diante do papel. 

Mateo López, Notas de Campo. 2011
Escultura-lápis em galho de árvore. Desenho e intervenção sobre papel





Cheguei na hora que estava acontecendo a performance audiovisual Folc-Industrial (2011), da porto-riquenha Beatriz Santiago Muñoz, com músicos tocando ao vivo, então gravei esse video: 





A obra Novas floras do Sul (2011), de María Elvira Escallón, são fotografias das intervenções realizadas em uma viagem pela região das Missões. Usando espécies nativas da flora da região, a artista talha e faz enxertos conectando os processos de colonização-evangelização e fusão dos Jesuítas em comunidades guaranis. 

María Elvira Escallón, Novas floras do Sul. 2011
Impressão digital. Talha sobre árvores nativas com ajuda do talhador local José Herter. Parque Histórico das Missões. 







Por fim, cheguei na Usina do Gasômetro, onde havia uma parte da mostra Cidade Não Vista, que compreende obras que proporcionam ao público transeunte uma relação difereciada com nove lugares escolhidos da cidade. Nesse caso, a chaminé da Usina. A obra Bate-estaca. 2001, de Oswaldo Maciá é uma instalação sonora dentro na chaminé. É possível imaginar os trabalhadores e remeter-se à época de sua construção, com o som ensurdecedor de bate-estaca que faz ecoar lá dentro. 

Oswaldo Maciá, Bate-estaca. 2001
Instalação sonora na chaminé da Usina do Gasômetro.




Ainda faltou ver as outras obras da mostra Cidade Não Vista, que estão distribuídas pela cidade: na cúpula da Casa Mario Quintana, nos jardins do Palácio Piratini, no Observatório Astronômico da UFRGS, na fachada da Prefeitura Velha - Paço Municipal, no Aeromóvel, na Garagem dos Livros, na Escadaria e no viaduto Otávio Rocha. 

Faltou também ver as exposições na Casa M, e Continentes no Atelier Subterrânea, mas essas ficam pra próxima ida à Porto Alegre. Enquanto isso, tem a Sala Dobradiça aqui em Santa Maria que também faz parte da mostra Continentes, nesta 8ª Bienal do Mercosul. 




link Sala Dobradiça: http://saladobradica.blogspot.com/



3 comentários:

  1. muito massa o trabalho de entalhe e enxertos, só que descobri que não é a artista que esculpe, tem um tal de José herter.. a idéia é massa, mas seria mais legal se ela botasse a mão também..

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  2. verdade. sim, eu coloquei na descrição da foto. na obra lá na Bienal, o nome do cara tá escrito a lápis no nome e descrição da obra!

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  3. não tem a que eu queria, mas mesmo assim obrigada!!

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